Comentário 271
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022/05/24
Sobre Cabo Carvoeiro, por Maria no dia 14.05.22 em silêncios. blogs.sapo.pt
Antes de lá se chegar,
Àquela escultura,
Cinzelada pela água e pelo tempo,
Abanada pelo vento
Que na água parece navegar,
Muitos passos foram dados,
Os olhos de espanto
Viram lá no fundo o mar rugir,
E muitas plantas resistentes,
Em pequenas fendas de rocha,
Às intempéries de uma eternidade.
Caminhar de salto em salto,
Ver o precipício abrir-se aos nossos pés,
Os olhos a chorar da aragem salgada,
E os ouvidos a zumbirem do vento
Em escalada crescente,
Como que a convidar-nos a voar.
Chegados ao abismo,
Para melhor desfrutar da arte do tempo,
Seguir aqueled fuste de pedra ali erguido,
Desde as profundezas do oceano
Ao azul cinzento da névoa,
É uma viagem singular.
De tempos a tempos o vento traz,
Na sua voz agreste, o piar das gaivotas,
Únicos animais que conseguem lá descansar.
Serão mesmo gaivotas,
Ou apenas grãos de pó e de vento,
Poemas de névoa escritos
Desde a eternidade?
Zé Onofre