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022/05/09
Não sei já quantas as vezes,
Mais que a eternidade de dias
Que muitos anos adiados têm,
Deixei que a desanimada caneta,
Desastradamente borratasse
O imaculado papel branco
Que te seria endereçado.
Após cada um destes acidentes,
Amarfanhava o inocente papel
Sepultava-o no cesto com tristeza,
Mágoa, fúria, raiva, sei lá...
Mais tarde, uma nova folha pura
Era estendida sobre a mesa
Que já se alheava deste ritual.
Agora é que é, mentalizo-me,
E você, dona caneta, tenha tino,
Não comece a despejar tinta
Como quem não tem tempo,
Nem saúde, nem paciência,
Para esta mão trémula
De sem saber o que escrever.
Então minha amiga longínqua,
Que lá atrás, na encruzilhada da vida,
Optaste por caminhos divergentes,
Gostaria de saber, embora finja o contrário,
Que é que o tempo que passou,
E que tão distantes nos pôs,
Fez de ti.
Embora sinta uma vontade,
Que escondo de mim mesmo,
De saber o que a vida te reservou.
Não te sintas coagida a responder.
De mim, apenas te direi
Que estou sentado
Na via por onde te vi desaparecer.
Zé Onofrfe