Dia de hoje 4
4
2021/09/22
Num tempo,
Que tinha todo o tempo
Que o tempo tinha,
Saltava
De Terra em Terra,
De polegar espetado ao vento,
À espera que um quatro rodas
Me levasse.
Nesse tempo,
Em que tinha
Todo o tempo
Que o tempo tinha,
Fui parar à praia de Matosinhos,
Onde esperava abrigo
Que não encontrei.
Como tinha
Todo o tempo
Que o tempo tem
Recomecei a viagem,
Dedo polegar
Espetado ao vento,
Para a casa paterna
Junto ao Monte de Stª Cruz,
Junto ao Tâmega.
Como tinha
Todo o tempo
Que o tempo tem,
E os quatro rodas
Não viam,
Ou desviavam os olhos,
Do polegar
Espetado ao vento,
Continuei noite dentro.
Passo atrás de passo,
Pé à frente,
Pé atrás
Ia.
O sol
No seu vagar de Verão
Não se pôs,
Foi-se pondo
Tinha, como eu,
Todo o tempo
Que o tempo tem.
A subir a serra de Valongo,
As estrelas,
Uma depois da outra,
Acendiam-se,
Fazendo ressaltar
O azul-escuro do céu
De horizonte a horizonte.
Como Todos
Tínhamos todo o tempo
Que o tempo tinha
Eu,
Sol,
Estrelas
Até a lua
Numa marcha
Lenta e leitosa
Apareceu
Para iluminar
Os meus passos
Serra acima,
Serra abaixo
Até onde as pernas cansadas
Encontraram descanso
Num tronco do caminho.
Os olhos, esses,
Continuaram
A seguir o caminhar da lua,
Gozando
Todo o tempo
Que o tempo tem,
Até ao alvorecer.
Zé Onofre