Dia de hoje 38
38
022/03/21
O meu pai contava,
Que os avós,
Dos avós deles,
E outros ainda mais antigos,
Contavam que lá no alto mais alto,
Dos montes em redor,
Havia em tempos uma cabana,
Que já ninguém se lembrava
De que material era feito.
Uns diziam que era de pedra granítica,
Mas os factos desmentiam-nos,
Que de restos de pedras, nem uma areia havia.
Outros afirmavam que a cabana era de madeira,
Onde certamente viviam dois pobres pastores
De uma mansa e fiel ovelha.
Também a estes a realidade desmente.
Pois, depois de porfiadas investigações,
Nem a mais pequena lasca de madeira,
Nem um fio de lã, ou qualquer outra prova,
Apareceu da mansa e fiel ovelha.
Finalmente, outros defendiam,
Com olhos de sondar o céu,
De ouvir as vozes dos ventos,
De ler os voos das aves,
Que a cabana, da tal lenda,
Que ficava no alto mais alto
Dos montes em redor
Era feita de musgo
E de outros materiais impensáveis
Na construção de uma cabana.
E de facto a estes a realidade não desmente.
Um dia de chuva e vento
Tempo péssimo para se estar em casa,
Mas perfeito para passear,
Caminhei sem destino
Que me levou ao alto mais alto
Do monte mais alto que havia em redor.
Abri os braços ao vento
E por mim a água escorria para o solo
Onde musgo em vários tons de verde,
Bebia da água que me havia regado.
Ali estava a prova.
A cabana era de musgo.
Zé Onofre