Dia de hoje 15
15 – Falar de letras
021/12/05
Pela calada da noite,
Pego em histórias e memórias,
Alegrias e ecos.
Em silêncio crio alfabetos,
Letras aleatórias, feitas de traços,
Por alguns sumérios ou egípcios,
Mas não só as criadas nas margens
Do Tigre e do Eufrates, ou do Nilo.
Chegam-me vagabundas e livres,
Sentam-se lá fora, no peitoril da janela.
Primeiro uma devagar um pouco tímida,
Um pouco ousada e destemida,
Entra pela friesta entre os caixilhos,
E pousa delicadamente no meu papel.
Após esta solitária, outras aos pares, ou não,
Plenas de força, senhoras do tempo,
Curiosas, aconchegam-se à primeira.
Umas chegam, cheias de deferência, da China.
Outras perfumadas e coloridas, vêm da India.
Outras, sempre apressadas, vêm da Fenícia.
Por fim, ordeiras, filosóficas chegam da Grécia.
Brinco com elas.
Junto-as, aparto-as,
Ficam sílabas suspensas
À procura de parceiras,
Para que das brumas nasçam palavras.
Cada letra desnecessária dissipa-se.
As outras formam palavras
Com significados e sonhos opostos.
No meu quarto, já cercado pelo sono,
Consigo ainda carregar algumas.
Já adormecido, escrevem o teu nome.
Zé Onofre