Dia de hoje 13
13
2021/11/12
Era sempre no mês de Setembro,
Ou talvez em Outubro,
No Outono era de certeza
E disso não abdico.
O sol do Verão amarelecera os campos.
Nas terras mais fundeiras
O verde, mais ou menos, límpido
Resistia ainda ao calor.
As espigas haviam emigrado para a eira,
Onde, entre alegria,
Modas acompanhadas por rabecas,
Braguesas e cavaquinhos,
Seriam desfolhadas.
De vez em quando – Milho-Rei-
Seguidos de abraços e risinhos
Murmúrios com todas as intenções
Rodavam de boca em boca.
Após a fuga do milho para a festa,
Estendido, na cama verde, ficou
Um fruto enorme e rastejante,
Um sol irradiando fogo.
Miúdos, traquinas e divertidos,
Sorrateiros levavam o sol brilhante,
Para a oficina dos medos.
Onde moldavam uma cadavérica cabeça.
Olhos raiados de vermelho,
Dentes de cebola sangrando,
Mais tarde iria para a casa do terror,
A mina onde a fonte bebia água fresca.
Nas desfolhadas quase a acabar,
Dançavam copos com garrafões,
Corpos com corpos em fogo,
Ficava a cabeça a rodopiar.
Os pequenos escapavam-se de fininho,
Lestos iam à casa dos terrores,
E dentro da cabeça enorme acendiam
Uma vela que ensanguentava tudo.
Tudo pronto. Bastava esperar
Que os sequiosos troca-pernas
Fossem refrescar com água corrente
As gargantas queimadas pelo carrascão.
O momento épico, ansiosamente
Esperado pela criançada,
Vinha atrás, tropeçando nas pernas,
Em esses perigosos chegava à bica.
De olhos arregalados,
A fugir às arrecuas da água,
Gritava com puro pavor
Que o diabo estava no fundo da mina.
Com o realismo, que a toldada
Cabeça pelo tinto verde
Permitia, ti-ti-nha o os o-o-lhos ver-ver-me-lhos
Dos seus den-den-tes es-co-corrri-rri-a san-san-gue.
Assim se encerrava o Verão
Com um diabrete aboborado
Que o sol amadurecera
E mão traquina terminara.
Zé Onofre