Dia de Hoje -3
-3
021/07/22
Já não sei.
Continuo a pensar
Naquele homem,
De há dois mil e quinhentos anos,
Ou há cinquenta,
Ou mesmo ontem,
Ou no dia em que o conheci
Ouvindo repetidamente
– Só sei que nada sei. –
Esse homem,
Por ser sábio,
Tinha a certeza de ser ignorante
– Só sei que nada sei. –
Continuei arrogantemente a ter certezas.
Continuei arrogantemente a caminhar
Por veredas que sabia serem
As certas indubitavelmente.
Há já tempos, vinda de não sei onde,
Talvez do fundo do passado,
Ressoa na minha cabeça aquela frase
– Só sei que nada sei –
Perscruto-me
E pergunto-me
– Por que não soube ouvir? –
Hoje, passados tantos anos,
A caminhar trilhos, talvez incertos,
À procura da Verdade,
Seja lá o que isso for,
Continuo à procura de um raio de luz,
De uma porta para sair,
Ou apenas uma brecha para me escapulir.
Apenas não a encontro
Porque não existe,
Ou porque tanto me enredei
Que a cada passo que dou
Mais me afasto?
Zé Onofre