Dia de hoje 27
27
022/02/16
Hoje subi à varanda do meu quarto.
Lá, do alto da casa
Largo a grade onde me debruçara,
Elevo os olhos ao céu cinzento,
Avaro da sua água
Que o sequioso Tâmega
Bem agradeceria.
Hoje subi à varanda do meu quarto.
Lá, do alto da casa,
Elevo os olhos ao cinzento.
Entre este cinzento
E o verde dos campos
(Onde ainda ontem bois mansos
Puxavam velhos arados
Com um homem cansado à rabeta
Lavravam a terra)
Avisto asas indefinidas
Que se confundem com o manto cinzento
Bordado de azul fugidio.
Hoje subi à varanda do meu quarto.
Lá do alto da casa,
De novo debruçado nas grades,
Vejo plantadas, no verde tapete dos campos,
Algumas casas.
Umas florescidas do telha-vivo,
Ao telha-velho enverrugado de verde.
Hoje subi à varanda do meu quarto.
Lá, do alto da casa,
Debruçado nas grades
Entre os vários tons das flores-telha,
Uma destoa espreitando
Por entre as folhas sempre verdes
De uma árvore centenária.
Hoje subi à varanda do meu quarto.
Lá, do alto da casa,
Debruçado nas grades
Os ouvidos prendem-se
Às histórias do meu quase centenário primo.
Contava das longas noites de Inverno.
Então os seus olhos azuis-límpidos
Aguavam por de trás das lentes
Enquanto sorriam também
Com a visão do pai Quim e da mãe Rita
Sentados à lareira, mais a tia Adelaide,
E mais tarde o ti' Zé Alfaiate.
Entrava mudo, saía calado
Sempre com a beata colada no canto da boca.
Neste ponto, quando os olhos
Ameaçavam desaguar rosto abaixo,
Recolhia a água às suas fontes
E os olhos estrelhejavam ao falar de um miúdo
Que afoitamente subia aquela árvore,
Já então mais alta que a casa.
Lá em cima, no alto da casa,
Debruçado nas grades
Da varanda do meu quarto onde subi
Penso ter visto, na alegria sorridente
Do miúdo no alto da árvore,
Uma amostra da Felicidade.
Zé Onofre