Dia de hoje 12
12
2021/11/03
Quando frequentei o quarto ano do liceu
O mesmo professor dava história e português.
Por que eu era Bom a história, coisa rara,
Tinha o mestre por mim certa consideração
E por isso a português o mínimo era o dez.
Confiado nesta linha de acontecimentos
E como a história era o meu encanto,
Estudava- a como quem vive uma aventura,
O português esperava preso a um canto.
Exceto o que neste tinha interesse a leitura.
Havia também a ferocíssima gramática,
Mas aqui o professor da quarta classe,
Que não era de levar as coisas com graças,
Se não cantava afinado o – a, ante, após até…
A “santa Luzia”, dos cinco olhos, fazia desgraças.
Na escrita, a coisa não era boa nem má,
Era uma jogar na lotaria uns dias não outros sim
Fazia a redação com pouca, ou muita dificuldade,
Que admiração, era feita sem prazer algum.
O importante era que tivesse começo, meio e fim.
Tinha sempre a nota dez, pelo menos, garantida
Deixava estar como estava. Asneira grande seria
Se tentasse mudar o que bem estava e ter negativa.
Assim, do modo que a coisa bem seguia,
Tinha a passagem de fim de ano garantida.
Um dia aconteceu a desgraça quase total.
O Mestre com certeza acordou de juízo torto.
Tema – “Regresso a casa após longa ausência”.
Era tema para quem nunca fora além do Porto,
Que saíra num dia de manhã e voltara no outro?
Paciência estava no barco era para fazer.
Se a não fizesse nem a História garantia a nota dez.
Então para a viagem parecer longa e durar
Pus a máquina, suada, fumegante e ofegante
A parar não poucas vezes em cada rampa que fazia.
A viagem que nem o diabo faria tão acidentada,
Descabida, inverosímil inventada até à medula,
Demorou bem dez horas que não foram coisa breve.
O professor furioso - então a máquina era uma mula?
Nesse dia a bendita nota dez resolveu fazer greve.
Alguns anos mais tarde, mas muito mais tarde,
Veio-me este acontecimento à memória.
Pendurado numa montra estava um quadro
Que pelo seu aspeto tinha cem anos de história.
Se, então, eu te conhecesse a nota dez estava na mão!
Zé Onofre