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Dia de Hoje

Dia de Hoje

30
Set22

Dia de hoje 64

Zé Onofre

64

Monólogo do Zé Maneta. 

(Zé Maneta, não. Bernardo José da silva, filho da Conceição maneta)

1 – Fora a caminho da porta

Deitei me’solhos ó rio

Só p’ra ber o teu brio

´’stabas a labar

Laba, laba, labadeira

‘stabas na brincadeira

‘stabas a namorar

 

2 – À porta

 

Ó ‘saurinha, ‘saurinha! Quer’uma’scoba p’ra labar o sobretudo! E sabom? Já se sabe e sabom!

Laba, laba, labadeira

‘stabas na brincadeira

‘stavas a namorar

Ó Méquinho qu’é‘gora qu’o Mário Silva, leb’à taça do ciclismo! É meu, meu filho! Qu’eu foi peixeiro na Ribeira, no Porto, e fiz lá um filho! Ai meu rico filho, qu’é campeom de ciclismo e Bib’ó “Porto”! Bamos gente, bamos,   qu’o meu filho já lá’stá   p’ra lebar’o prémio.

Ai num é?! É triato? Triato, o qu’é qu’é triato?!

 

2 – Do fundo para a frente

 

A Saia da Carolina

Tenh’um lagarto pintado

Sim Carolina ó i ó ai

Sim Carolina ó ai meu bem

Tem cuidad’ó Carolina

Qu’o lagarto bai-t’ó…

Ai bai, bai, … qu’eu menei, menei, menei todos no foxtrot nos cedros, na pixina,

Cala-te Zé!

Cala-te Zé? Num calo! Olha, olha p’r’ele, o menino Tóli, a dizer cala-te Zé. O menino Tóli tem medo qu’eu conte o qu’oubi em casa do sar’… Qu’era, era. Ai era, er’ó menino Tóli, …

A Saia da Carolina

Te’nh’um lagarto pintado

Sim carolina ó i ó ai

Sim Carolina ó ai meu bem

Tem cuidad´ó Carolina

Que o lagarto bai-t’ó …

 

 

Cala-te Zé!

Ai cala-te. Ó se Macedo debe-me 30 mil réis, faz três meses que num me paga. Num debe? Debe, debe! Pensa qu’é só rir do …

… Zé Maneta?! Zé Maneta, Nom! José Bernardo da Silva, filho da Conceição Maneta. Olha o s’ P’reira fum, fum, fum, pensa qu’é só rir do borracho. Querem rir, paguem, paguem!  Ai roubaro-m’a picareta, qu’era o meu ganha-binho, e agora bebo de quê?

 

3 – À frente ao centro, para a esquerda, para a direita, para o centro

 

Er’ó binho, meu Deus er’ó binho

Era a coisa qu’eu ma’sadorava

Só pro morte meu bem, só pro morte

Só pro mort’é qu’eu o binho, deixaba.

  Bobia, Bobia mais, mas’a canec’stá seca.

Ó se Serafim ma’suma canequinha, só uma, se Serafim.

Cala-te Zé!

Só uma, só uma canequinha!

Fum’um “Porto” e tenh’uma caneca?!

 Num queim’o’meu rico “Porto”! Oubiro, Queimar’o meu Porto? Eu não me bendo pr’uma caneca de binho!

Dá-m’uma copa da balança s’a bober dum gole?!

Já bai!

“glu …glu… glu…”

“Ffffffffffffffffffffffffffffffffffff”

4 – Para o fundo

 

Sopas de binho num embebedam

Se nunh’stá bento, nem chuva,

Minhas botas nunh’escorregam,

Que diach’é que m’empurra!

Hum, hum, hum , brrr, brrr

 

5 – Cai a meio

 

Ai, ai, ai! Menino Tóli, num bê quenh’está?

 

6 – Levanta-se e caminha para o fundo

 

Ó menina! Coser à noite com linha preta cham’ó dianho! Pr’isso caí na baleta. Menina, menina ….

 

7 – Para a frente

 

Milagre! Milagre!

Santosanjos e arcanjos,

Bind’em nossa companhia

Ajudai-no’sa louvar

A divin’eucar’stia

Cala-te Zé!

Foi milagre sar’Abade, eu’stava caídinho na cama, qu’até asovelhas, do s’Américo. me mijaro a cama, num foi menina Leninha, e num cunseguia levantar um dedo, e beu a Nossa Sr.ª da Graça e lebantou-me. Milagre, Milagre

Santosanjos e arcanjos,

bind’em nossa companhia

Ajudai-no’sa louvar

A divin’eucar’stia    

Bai-t’embora Zé!?

 

8 – Para trás

 

Prontos bou p’r’à beira do Biolino, xotado com’um com!

Biolininho, Biolininho,

Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr

Tu rosnas, biolão, biolão

 

9 – À porta do fundo

Ó se Doutor tam’ém poss’ir ao tiatro ou fic’aqui co´o Biolino? Tam’ém bou? Ai qu’o se Doutor é meu amigo. E binho, posso lebar a canequinha do binho? Ai qu’o se doutor é o ma’or. Bamos, bamos’ó  triato, mas só o Zé leba a caneca. Oubi, sõedes cons p’ra ficar cá fora? Todos p’ra dentro, fora só’oz biolininho’ses  e oz’biolões. Todos p’ra dentro qu’o se Doutor bai fechar a porta. Oubiro o se Doutor, que deu-m’uma caneca de binho, é que manda! Os’es Doutores é que mando, mas’um doutor que me dá binho, manda mais! Bib’ó se Doutor! Bib’ó triato!

10 – Fecha a porta

    Zé Onofre

Notas 

Zé Maneta

 

 

  • Nome: “Zé Maneta, não! José Bernardo da Silva, filho da Conceição Maneta.”
  • Atividade: Rachador de tocos até que: “Roubaram-me a picareta é porque querem que não trabalhe.”
  • Atividade pedinte? Não! : “O senhor … deve-me tanto, há três meses que me não paga”.
  • Assistido pelos vizinhos, vivia num quarto, por cima de uma corte de ovelhas, emprestado a título vitalício.
  • Assistido pela Conferência de S. Vicente de Paula que lhe limpava o quarto. Ralhado por urinar na cama: “Ó menina Leninha, juro que não fui eu, foram as ovelhas do Sr. Américo.”
  • Guardador dos bons Costumes
    1. Vizinho de uma piscina onde a juventude “bem” da terra passava as tardes de Verão: “ Eu menei, menei! Menei! estavam no fox-trot!”
    2. Frequentador da casa do pároco ouve vozes que não reconhece como do padre: “Era o menino Tóli que estava com a Fatinha [irmã do padre]
  • Acariciador de cães: “Violininho, Violininho [o cão rosna e ameaça morder] Violão, Violão”
  • Fumador, ofereciam-lhe tabaco de filtro, não aceitava porque podia ser Porto: “Eu não queimo o meu porto!”
  • Doente, ficou curado num dia da festa da Senhora da Graça: “Vi nossa Senhora! Ela fez-me um milagre!”
  • Conselheiro: “Ó menina está a coser à noite com linha preta? Olhe que chama o diabo!”
  • Frequentador da Igreja, acompanhava os cânticos, em voz alta, afinados, embora fora do tom da restante comunidade: -“Cala-te Zé!” – “Já não se pode cantar, vou-me embora!”
  • Bêbado Incorrigível: “Aposto que bebo uma copa [copo grande de uma balança de braços] de um só fôlego! Glu glu glu …. Vuuuuuuuuuuuuuuuuu!”
  • Circuito do Vale do Tâmega em Ciclismo, para populares. Adepto do Porto, a prova é ganha por Mário Silva, ciclista do Porto. Convencem-no que este é seu filho: “Ai, o meu rico filho é campeão!”
  • Pobre, mas limpo: “Ó dona Isaurinha preciso de sabão e escova para lavar o sobretudo!”, que lavava a cantar.
  • Respeitador: “Ó sr. Pereira Fun, fun, fun” -  [quando se dirigia ao sr. Pereira que não gostava que lhe chamassem Funtão”.
21
Set22

Dia de hoje 62

Zé Onofre

              62

 

022/09/20

 

Há uma figura

No parapeito de uma janela.

Deixaram-na ali,

Numa forma de alguém

Com ossos, carne e pele.

 

Parece olhar.

Parece ouvir.  

Parece ser, contudo não é.

É qualquer coisa abandonada

Sem espaço e sem tempo.

 

De repente, um sopro

Insuflou movimento autónomo

Àquela figura.

Naquele momento aconteceu algo espantoso.

Para ela nasceu o espaço, nasceu o tempo.

  Zé Onofre

20
Set22

Comentário 297

Zé Onofre

                    297 

 

022/09/20

 

Sobre Elementar, Maria Soares, 11.09.22, silencios.blogs.sapo.pt/

 

 

Não sei se vi,

Se imaginei,

Ou se foi mais um sonho que tive.

 

Era a imagem de uma fraga

Que a natureza esculpiu com rosto humano.

O rosto de uma deusa,

A mãe Gaia de todos nós.

 

Essa imagem

Vista, imaginada ou sonhada,

Mostrou-me com clareza,

Sem dúvida nenhuma

Que entre homem e natureza

Não há diferença alguma.

 

Do ponto mais distante do Universo,

Que se situa

Para lá de onde a imaginação alcança,

Há uma teia de fios invisíveis

Que une tudo e todos como uma trança.

 

Naquela bacia de águas serenas,

Uma pequena amostra do Universo,

Ao flutuarmos naquela água original,

Percebemos a nossa frágil finitude.

Flutuando naquela água virginal,

Vemos que não há querelas, nem diferenças,

Que todos, mortos e vivos, somos um em plenitude.

Zé Onofre

15
Set22

Comentário 296

Zé Onofre

                   296

022/09/15

Sobre Vida, viva a vida, Taddeo Kallil Nauar, chaosmythosalegorias.blogs.sapo.pt

Vivo a vida vivendo.

Traço com alegrias e tristezas,

Com amor e amargura

O caminho que trilho.

Apenas vivo fazendo da vida

Coisa única e intransmissível.

Às vezes tenho a sorte de ir a par de outros

Que fazem a sua rota com destino

Ao mesmo Infinito.

  Zé Onofre

14
Set22

Comentário 295

Zé Onofre

                   295 

 

022/09/13

 

Sobre, O Signo de Deus, Sandra, 03.09.22, cronicassilabasasolta.blogs.sapo.pt

 

 

Se a lua,

As estrelas,

A noite me contassem todos os segredos

Não teria enganos,

Desilusões,

Ou medos do amanhã.

 

Talvez

A lua,

As estrelas,

A noite me contem todos os segredos.

Talvez seja incapacidade minha

Não saber ouvir as palavras

Que o universo sussurra na aragem.

 

Talvez

A lua,

As estrelas,

A noite me contem todos os segredos.

Talvez seja por incapacidade minha,

Não os recolher um a um conforme, 

Caem à minha frente como folhas de outono.

 

Talvez

A lua,

As estrelas,

A noite me contem todos os segredos.

Talvez seja por incapacidade minha,

Que lhes fecho os olhos

Como se fossem raios de uma tempestade.

 

Talvez

A lua,

As estrelas,

A noite me contem todos os segredos.

Talvez seja por medo meu

Não os ouvir,

Não os apanhar,

Não os ver.

    Zé Onofre

13
Set22

Comentário 294

Zé Onofre

                   294

 

022/09/04

 

 

Sobre Sombra ao lado por Maria, 01.09.22, em taosomente.blogs.sapo.pt

 

 

Com palavras

Escrevo e respiro.

Inspiro imagens

Expiro palavras,

Crio pessoas.

 

Com palavras desenho

Como se pintasse.

Inspiro palavras

Expiro cores

Crio quadros.

 

Falando

É como se esboçasse

Um voo sobre a multidão

Em traços de águias,

Em riscos de crianças.

 

Usando palavras

É como se contruísse pontes.

Digo longe

E fico perto

Frente a frente com o mundo.

   Zé Onofre

10
Set22

Dia de hoje 61

Zé Onofre

              61

08.09.22

 

Juro,

Que desde que penso

Pelo meu pensar,

Nunca acreditei

Numa vida

Depois da morte.

 

Juro

Que nunca acreditei.

Agora sou a prova viva

Que há vida

Para além da morte.

 

Juro

Que nunca acreditei.

Olhava a morte

Como só uma.

Eterna e irremediável.

 

Juro

Que nunca acreditei.

Sou a prova que numa só vida

Há mil vidas

E mil mortes.

 

Juro

Que nunca acreditei.

Sei apenas que por cada morte vivida

Reencarnei noutra vida

Em que os sonhos são sonhados para morrer.

 

Juro

Que nunca acreditei.

Continuo

Simplesmente à espera da morte.

Irremediável, eterna azul.

08
Set22

Dia de hoje 60

Zé Onofre

                  60

 

022/09/08

 

Hoje,

Nestes tempos

Obscuros,

Escusos,

Cobertos pelo manto negro

Da mentira

Da demagogia

Da falsidade,

Vendida como verdade,

Nada me excita.

 

Tudo me sufoca,

Tudo me tortura os sentimentos,

Tudo me aturde o pensamento,

Tudo é lama,

Tudo é pântano.

 

Tenho medo de enunciar

O que verdadeiramente me excitaria.

   Zé Onofre

04
Set22

Dia de hoje 59

Zé Onofre

               59

 

022/09/04

 

Com uma palavra e outras palavras

Seguidas de outras

Construímos pontes

E paredes.

 

Com uma palavra e outras palavras

Seguidas de outras

Expomo-nos

E escondemo-nos.

 

Com uma palavra e outras palavras

Seguidas de outras

Descrevemos mundos

Havidos e a haver.

 

Com uma palavra e outras palavras

Seguidas de outras

Inspiramos fragmentos do real

E expiramos sonhos.

 

Com uma palavra e outras palavras

Seguidas de outras

Tudo construímos

E tudo destruímos.

 

E afinal são apenas palavras.

Zé Onofre

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