Dia de hoje 64
64
Monólogo do Zé Maneta.
(Zé Maneta, não. Bernardo José da silva, filho da Conceição maneta)
1 – Fora a caminho da porta
Deitei me’solhos ó rio
Só p’ra ber o teu brio
´’stabas a labar
Laba, laba, labadeira
‘stabas na brincadeira
‘stabas a namorar
2 – À porta
Ó ‘saurinha, ‘saurinha! Quer’uma’scoba p’ra labar o sobretudo! E sabom? Já se sabe e sabom!
Laba, laba, labadeira
‘stabas na brincadeira
‘stavas a namorar
Ó Méquinho qu’é‘gora qu’o Mário Silva, leb’à taça do ciclismo! É meu, meu filho! Qu’eu foi peixeiro na Ribeira, no Porto, e fiz lá um filho! Ai meu rico filho, qu’é campeom de ciclismo e Bib’ó “Porto”! Bamos gente, bamos, qu’o meu filho já lá’stá p’ra lebar’o prémio.
Ai num é?! É triato? Triato, o qu’é qu’é triato?!
2 – Do fundo para a frente
A Saia da Carolina
Tenh’um lagarto pintado
Sim Carolina ó i ó ai
Sim Carolina ó ai meu bem
Tem cuidad’ó Carolina
Qu’o lagarto bai-t’ó…
Ai bai, bai, … qu’eu menei, menei, menei todos no foxtrot nos cedros, na pixina,
Cala-te Zé!
Cala-te Zé? Num calo! Olha, olha p’r’ele, o menino Tóli, a dizer cala-te Zé. O menino Tóli tem medo qu’eu conte o qu’oubi em casa do sar’… Qu’era, era. Ai era, er’ó menino Tóli, …
A Saia da Carolina
Te’nh’um lagarto pintado
Sim carolina ó i ó ai
Sim Carolina ó ai meu bem
Tem cuidad´ó Carolina
Que o lagarto bai-t’ó …
Cala-te Zé!
Ai cala-te. Ó se Macedo debe-me 30 mil réis, faz três meses que num me paga. Num debe? Debe, debe! Pensa qu’é só rir do …
… Zé Maneta?! Zé Maneta, Nom! José Bernardo da Silva, filho da Conceição Maneta. Olha o s’ P’reira fum, fum, fum, pensa qu’é só rir do borracho. Querem rir, paguem, paguem! Ai roubaro-m’a picareta, qu’era o meu ganha-binho, e agora bebo de quê?
3 – À frente ao centro, para a esquerda, para a direita, para o centro
Er’ó binho, meu Deus er’ó binho
Era a coisa qu’eu ma’sadorava
Só pro morte meu bem, só pro morte
Só pro mort’é qu’eu o binho, deixaba.
Bobia, Bobia mais, mas’a canec’stá seca.
Ó se Serafim ma’suma canequinha, só uma, se Serafim.
Cala-te Zé!
Só uma, só uma canequinha!
Fum’um “Porto” e tenh’uma caneca?!
Num queim’o’meu rico “Porto”! Oubiro, Queimar’o meu Porto? Eu não me bendo pr’uma caneca de binho!
Dá-m’uma copa da balança s’a bober dum gole?!
Já bai!
“glu …glu… glu…”
“Ffffffffffffffffffffffffffffffffffff”
4 – Para o fundo
Sopas de binho num embebedam
Se nunh’stá bento, nem chuva,
Minhas botas nunh’escorregam,
Que diach’é que m’empurra!
Hum, hum, hum , brrr, brrr
5 – Cai a meio
Ai, ai, ai! Menino Tóli, num bê quenh’está?
6 – Levanta-se e caminha para o fundo
Ó menina! Coser à noite com linha preta cham’ó dianho! Pr’isso caí na baleta. Menina, menina ….
7 – Para a frente
Milagre! Milagre!
Santosanjos e arcanjos,
Bind’em nossa companhia
Ajudai-no’sa louvar
A divin’eucar’stia
Cala-te Zé!
Foi milagre sar’Abade, eu’stava caídinho na cama, qu’até asovelhas, do s’Américo. me mijaro a cama, num foi menina Leninha, e num cunseguia levantar um dedo, e beu a Nossa Sr.ª da Graça e lebantou-me. Milagre, Milagre
Santosanjos e arcanjos,
bind’em nossa companhia
Ajudai-no’sa louvar
A divin’eucar’stia
Bai-t’embora Zé!?
8 – Para trás
Prontos bou p’r’à beira do Biolino, xotado com’um com!
Biolininho, Biolininho,
Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
Tu rosnas, biolão, biolão
9 – À porta do fundo
Ó se Doutor tam’ém poss’ir ao tiatro ou fic’aqui co´o Biolino? Tam’ém bou? Ai qu’o se Doutor é meu amigo. E binho, posso lebar a canequinha do binho? Ai qu’o se doutor é o ma’or. Bamos, bamos’ó triato, mas só o Zé leba a caneca. Oubi, sõedes cons p’ra ficar cá fora? Todos p’ra dentro, fora só’oz biolininho’ses e oz’biolões. Todos p’ra dentro qu’o se Doutor bai fechar a porta. Oubiro o se Doutor, que deu-m’uma caneca de binho, é que manda! Os’es Doutores é que mando, mas’um doutor que me dá binho, manda mais! Bib’ó se Doutor! Bib’ó triato!
10 – Fecha a porta
Zé Onofre
Notas
Zé Maneta
- Nome: “Zé Maneta, não! José Bernardo da Silva, filho da Conceição Maneta.”
- Atividade: Rachador de tocos até que: “Roubaram-me a picareta é porque querem que não trabalhe.”
- Atividade pedinte? Não! : “O senhor … deve-me tanto, há três meses que me não paga”.
- Assistido pelos vizinhos, vivia num quarto, por cima de uma corte de ovelhas, emprestado a título vitalício.
- Assistido pela Conferência de S. Vicente de Paula que lhe limpava o quarto. Ralhado por urinar na cama: “Ó menina Leninha, juro que não fui eu, foram as ovelhas do Sr. Américo.”
- Guardador dos bons Costumes
- Vizinho de uma piscina onde a juventude “bem” da terra passava as tardes de Verão: “ Eu menei, menei! Menei! estavam no fox-trot!”
- Frequentador da casa do pároco ouve vozes que não reconhece como do padre: “Era o menino Tóli que estava com a Fatinha [irmã do padre]
- Acariciador de cães: “Violininho, Violininho [o cão rosna e ameaça morder] Violão, Violão”
- Fumador, ofereciam-lhe tabaco de filtro, não aceitava porque podia ser Porto: “Eu não queimo o meu porto!”
- Doente, ficou curado num dia da festa da Senhora da Graça: “Vi nossa Senhora! Ela fez-me um milagre!”
- Conselheiro: “Ó menina está a coser à noite com linha preta? Olhe que chama o diabo!”
- Frequentador da Igreja, acompanhava os cânticos, em voz alta, afinados, embora fora do tom da restante comunidade: -“Cala-te Zé!” – “Já não se pode cantar, vou-me embora!”
- Bêbado Incorrigível: “Aposto que bebo uma copa [copo grande de uma balança de braços] de um só fôlego! Glu glu glu …. Vuuuuuuuuuuuuuuuuu!”
- Circuito do Vale do Tâmega em Ciclismo, para populares. Adepto do Porto, a prova é ganha por Mário Silva, ciclista do Porto. Convencem-no que este é seu filho: “Ai, o meu rico filho é campeão!”
- Pobre, mas limpo: “Ó dona Isaurinha preciso de sabão e escova para lavar o sobretudo!”, que lavava a cantar.
- Respeitador: “Ó sr. Pereira Fun, fun, fun” - [quando se dirigia ao sr. Pereira que não gostava que lhe chamassem Funtão”.