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022/04/20
Longe, longe
Nas curvas e contracurvas
Da caminhada que aqui me trouxe,
Ficaram perdidas tantas coisas
Que julgava nunca terem acontecido.
De repente, nas curvas e contracurvas,
Da caminhada,
Que continua ainda,
Aparece um sinal que me atira lá atrás
Onde me vejo já sombra esbatida
E gasta pelo tempo.
Ainda assim, por entre o nevoeiro
Do passado e dos olhos molhados,
Consigo ver uns rapazitos a brincar
Estrada abaixo, estrada acima,
A brincar ao bate-e-fica,
Como se dizia na minha aldeia
Que noutras bandas era à caçadinha.
Num outro quadro é noite,
Noites longas da Missa do Galo,
Da quinta-feira Santa,
Do sábado da Aleluia,
Das Festas da Ascensão,
Da srª da Graça
E da Assunpção,
Que duravam ainda mais
Nas canções de roda,
Na bruxa-da-ajuda,
Do quem-me-livra,
No jogo das escondidas,
Que às vezes de tanto cansaço,
Se adormecia no esconderijo,
E somente se acordava ao sol nascente.
Um último quadro.
Uma casa em construção
Com paredes graníticas,
Vãos de portas e janelas a começar.
Nas esquinas olhos espreitam,
Um corpo pequeno avança,
De braço estendido.
Segura na mão uma pequena pistola
– Feita de madeira
Que atira balas feitas de ramo de choupo
Projectadas por uma tira de câmara de ar –
Efeitos do “Bonanza”,
Que nos punha a jogar aos «cowboys».
Zé Onofre