Dia de hoje 22
A todos quantos passarem por aqui, e aos que por aqui não passarem, que façamos o próximo Ano melhor do que este.
Zé Onofre
22
021/12/31
Hoje é noite de cantar as Janeiras,
De ir de porta em porta,
Por caminhos velhos,
Ou não tão velhos como isso.
Velhos por perdidos
Nos meandros do passado.
Crianças, afinadas umas,
Outras nem tanto nas suas ilusões,
Param as passadas
À porta dos mais “ricaços”,
A desejarem Bom Ano Novo
Em troca de uns tostões.
Começava o mais afinado,
Ou talvez o mais desenrascado,
Seguido pelo coro mais ou menos desafinado.
– O céu é para as estrelas,
O jardim para as flores,
No meio deste terreiro
Boa noite meus senhores. –
Uma pausa
Para acalmar o nervosismo
Para depois se prosseguir
Com redobrada energia
Naquela noite tão fria.
– Quem diremos nós que viva
No seu fato de veludo
Viva lá o senhor ……..
Com a sua bolsa acode a tudo.
Quem diremos nós que viva
Na pelezinha da raposa,
Viva lá a dona ……
Que é uma santa esposa.
Quem diremos nós que viva
Na folhinha do codesso,
Viva toda a outra gente
Que por nome não conheço. –
Nova pausa para respirar
E descansar a voz esganiçada.
O rapaz do saco chega-se à porta,
É a hora do tudo ou nada.
– O céu é para as estrelas
O jardim para os botões,
No meio deste terreiro
Deitai alguns tostões. –
Seguia-se uma longa espera
Espreitando a porta fechada.
Há uma fresta com luz,
Uma mão que se mete no saco.
Alegre a malta canta a plenos pulmões.
– O céu é para as estrelas,
O jardim para as flores.
No meio deste terreiro
Muito obrigado, meus senhores. –
O rancho animado
Parte para outro terreiro.
Já o dia vai raiando
Quando o grupo cansado,
Se senta no adro da igreja
A dividir o “tesouro” arrecadado.
Acaba assim em alegria
A última noite do Ano Velho.
Com data já marcada
Para o fim do Novo ano.
Zé Onofre