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Dia de Hoje

Dia de Hoje

24
Jan23

Dia de hoje 88

Zé Onofre

               88

 

023/01/24

 

Triste humanidade,

Esta, a que chegamos.

 

Desde que se coroou

Com os louros de civilizada,

Regrediu,

Não à selvajaria de onde emergiu,

Mas nos sentimentos de igualdade.

 

Triste humanidade,

Esta, a que chegamos.

 

O sentimento de igualdade

Transformou-se

No sentimento de posse,

De poder sobre os mais fracos,

De hostilidade

Contra os vizinhos.

 

Triste humanidade,

Esta, a que chegamos.

 

Tudo se transformou em mercadoria.

Desde os bens mais básicos

Como os alimentos,

O trabalho que sustenta a vida,

A terra e o mar,

A natureza com os seus recursos,

Os homens e o seu génio,

A arte e a educação,

A saúde,

Tudo se transformou

Em bens de troca e consumo.

Até o corpo das mulheres

Tem um preço à hora,

E os sem vergonha

Que tudo podem e possuem,

Civilizadamente evoluídos,

Chamam, a este tráfico de carne humana,

A mais velha profissão do Mundo.

 

Triste humanidade,

Esta, a que chegamos.

   Zé Onofre

21
Jan23

Dia de hoje 87

Zé Onofre

               87

 

023/01/21

 

Ó ingenuidade da juventude,

Que em tudo vê o melhor dos mundos.

Ó ingenuidade de estudante,

Fechado no interior de si mesmo,

Da família

E de um país fechado

Num romantismo heroico tardio.

 

Ó ingenuidade bovina

Que olha para um palácio,

Sem nada entender se enleva

Nas novidades da revolução industrial,

No início de um mundo robotizado.

 

Ó ingenuidade ignorante

Que acredita piamente

Nos avanços das máquinas

E da futura robótica

Como libertação da humanidade

Das correntes de trabalhos esforçados,

Trabalho de escravos,

Das correntes do tempo

Que o impedem de gozar

Todas as belezas

Que a natureza contém

E aquelas que o génio Humano

Cria também.

 

Que tombo na dura realidade

Que nenhum “manto diáfano da fantasia”

Cobre e se deixa ver em todo o seu horror.

Que amargura

Verificar

Que tudo que o “engenho e a arte” criaram

São apenas para usufruto de uma elite

Minoritária e prepotente que de tudo se apodera.

 

Quanta revolta então nasce

Nos que se veem arredados,

Espoliados, do que naturalmente

A toda a Humanidade pertence,

 

Que humilhação quando se descobre

Que há a Humanidade e os outros

E que os outros somos os de sempre.

Escravos na Roma e Grécia antigas.

Servos da gleba medievais.

Escravos dos impérios coloniais.

Assalariados nos tempos atuais.

Zé Onofre

27
Out22

Dia de hoje 72- Canto triste VIII

Zé Onofre

              72

 

      Canto triste VIII

 

022/10/27

 

Trabalhador valoroso,

Onde o vais levar o trabalho

Que é tão esforçado,

Oh trabalhador?

 

Não vês que não és o último

Na enorme lista da procura?

Abre os olhos,

Oh trabalhador!

  

Abre os ouvidos bem abertos,

Que a cantiga que vais ouvir,

Não te iluda,

Oh trabalhador!

 

Não te deixes embalar nela,

Que perdido é horário e salário,

Só de ouvi-la,

Oh trabalhador!

 

Trabalhador valoroso,

Aida é tempo, vira o jogo,

Vira o jogo,

Oh trabalhador!

Zé Onofre

23
Out22

Comentário 300

Zé Onofre

                   300 

 

022/10/19

 

 Sobre Quantos e Tantos Mais, Lúcia Neves em 16.10.22, no mluciadneves.blogs.sapo.pt

 

Caminho pelas veredas da vida

Sem sombra de alguém

Que comigo queira

Cheirar as mesmas flores,

Gozar os mesmos raios de luz,

A luz cinzenta caída das nuvens,

A sombra frondosa dos carvalhos,

O frio da geada

Que nenhum sol derreteu.

 

Caminho pelas veredas da vida

Só.

Enquanto lanço perna atrás da perna,

Desfilam

Pelos meus sentidos

Ideias extravagantes

De sociedades onde há apenas pessoas,

Onde cada um tem “o necessário,

Estritamente o necessário”,

À maneira do urso Balu do Livro da Selva.

Uma sociedade

Onde cada um recebe o que precisa,

Dá o que tem.

Uma sociedade

Sem exploradores, nem explorados,

Onde as pessoas são o que são,

Não são o que têm.

 

Afinal os meus pés não tropeçam sós no caminho.

Na minha cabeça

Acompanha-me uma multidão de pessoas

Felizes

Que o meu pensamento criou.

 

Contudo uma pergunta

Me atormenta.

Será que não andarão por aí

Ideias a germinar 

Semelhantes às minhas

Que com ele queiram fazer caminho? 

    Zé Onofre

22
Out22

Comentário 299

Zé Onofre

B 299 ------- 294

 

022/10/05

 

Sobre,E tu, és insubstituível?, Lu, em aquihacoracao.blogs.sapo.pt

Eu passarei.

O céu continuará azul

Ou cinzento de acordo com o anticiclone,

Ou as frentes frias.

Mudaá ao ritmo 

Das aragens,

Dos ventos,

Ou dos temporais.

A atmosfera continuará,

Com os seus humores do momento.

O mar ondulará

Segundo a canção do vento.

As marés serão praia-mar,

As marés serão baixa-mar,

Ao ritmo lunar.

Lá para onde a realidade alcança,

Mas aquém do infinito da imaginação,

Estrelas mortas continuarão a ser vistas,

Outras morrerão,

Outras aparecerão,

Apesar da existência,

Ou inexistência,

Ou o fim deste pequeno grão de pó.

Este grão de pó, que sou eu,

Nada interferirá na marcha do universo.

Não sou substituível,

Nem insubstituível,

Serei apenas um nada.

E um nada é um nada.

22
Out22

Dia de hoje 71- Canto triste VII

Zé Onofre

          71

 

Canto triste VII

 

022/10/21

 

Faz-te clandestino, operário,

Junta à dos outros a tua dor

Faz-te clandestino, operário,

E a luta terá muito mais vigor. 

 

Regressa à noite, militante,

Lutar pelo dia da felicidade

Preparar o surgir de um novo sol

Que a nossa luta seja o farol

De um novo rumo à liberdade.
Preparar o surgir de um novo sol

Que a nossa luta seja o farol

De um novo rumo à liberdade.

 

Faz-te clandestino, operário,

Junta à dos outros a tua dor

Faz-te clandestino, operário,

E a luta terá muito mais vigor.

 

Uni as vossas forças, operários

Minai bem minada a muralha

Dêmo-nos as mãos sem demora

Lutemos todos os dias e agora

Vencedores justos desta batalha.

Dêmo-nos as mãos sem demora

Lutemos todos os dias e agora

Vencedores justos desta batalha.

 

Faz-te clandestino, operário,

Junta à dos outros a tua dor

Faz-te clandestino, operário,

E a luta terá muito mais vigor.

 

Vamos fazer um novo amanhã

A luta é de homens e mulheres

Que juntos vamos levar

A todo o lado a força de lutar

Na bandeira que lutar fizeres.

Que juntos vamos levar

A todo o lado a força de lutar

Na bandeira que lutar fizeres.

 

Faz-te clandestino, operário,

Junta à dos outros a tua dor

Faz-te clandestino, operário,

E a luta terá muito mais vigor

19
Out22

Comentário 298

Zé Onofre

                298 

 

022/09/23

 

Sobre Ama-me, Porque Sim, Sandra, 19.09.22, em

cronicassilabasasolta.blogs.sapo.pt

|

 Amar,

Talvez um dos mais fáceis verbos de conjugar.

Anda de boca em boca,

Solto ao vento

Como estrela de papel.

Esse verbo amar,

De que estou agora a falar,

Estrela de papel ao vento,

É tão vazio de sentido

Como o papel de que é feita a estrela.

 

A estrela

Tem mais sentido em cada laço

Do seu rabo

Do que o verbo amar largado

Boca fora,

Como quem expele uma baforada de fumo.

 

Agora,

Quem ama,

Não badala como o sino,

Gritando-o ao Orbe e à Urbe,

Eu amo.

 

Mesmo que o seu amor seja conhecido,

A dificuldade,

Em o conjugar como deve de ser,

É maior do que quem ama,

Torna-o incapaz de usar as palavras

Que justifiquem o amor.

 

Usa todas as palavras,

As possíveis e as impossíveis,

As reais e as imaginárias

Para concluir envergonhado,

Porque sim. 

Zé Onofre

17
Out22

Dia de hoje 70 - Canto tiste Vi

Zé Onofre

               70

 

Canto triste VI

 

022/10/17

 

Já não há poetas trovadores

Que cantem a nossa desgraça.

Não há quem semeie as dores

Sequer no vento ligeiro que passa.

 

Os cantores que há, não sabem

Ir de Terra em Terra animar a malta.

Que cantem traz um amigo também

Todos, vivos e idos, fazemos falta.

 

Os sanguessugas não temem nada,

Chupam-nos o sangue à luz do dia.

Os poetas vêem esvair-se a manada

E não denunciam a forte sangria.

 

Não há poetas que numa só canção

Dizerem a liberdade está por vir

Virá com pão, habitação e educação,

Que o povo seja dono do que produzir.

16
Out22

Dia de hoje 69 - Canto triste V

Zé Onofre

             69

 

                Canto triste V

 

022/10/16

 

Caminhamos sob um manto cinzento,

Cada um de nós vai só, surdo e mudo

Distraído da vida que vai sem alento

Como se só viver por viver fosse tudo.

 

Agora, caminhamos tristes cabisbaixos

Sujeitos a viver sem passado, nem futuro.

 

Se alguém nos olha com seu ar perdido,

Coisa mais natural nos tempos que correm

Engana-se. Parece-lhe um ser decidido,

Por baixo da pose vê um ser que nada tem.

 

A toda a parte chegamos como se nada

Fosse terem-nos tirado todo os direitos.

Sentamo-nos lado a lado pensando, cada

Um que tem que se amanhar a seu jeito.

 

Somos homens presos na cadeia do medo,

Com temor até de com os outros partilhar

O trabalho que esperamos logo mais cedo

Receosos que se suspeitam o vão roubar.

 

Agora, caminhamos tristes cabisbaixos

Sujeitos a viver sem passado, nem futuro.

     

Eles assustam todos com palavras mansas,

Calaram-nos com dois patacos e a ameaça

De monstros, como se fossemos crianças,

Se não queres assim, não falta quem o faça.

   

Jazemos como mendigos às portas da vida,

Pedindo, olhar baixo, por favor a esmola

De um trabalho. Prescindimos da devida

Paga e aceitamos como se fosse o totobola.  

 

Agora, caminhamos tristes cabisbaixos

Sujeitos a viver sem passado, nem futuro.

Agora, caminhamos tristes cabisbaixos

Sujeitos a viver sem passado, nem futuro.

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